Paracelso - (1493-1541)

sábado, 22 de dezembro de 2007
"Aquele que imagina que todos os frutos amadurecem ao mesmo tempo, como as cerejas, nada sabe a respeito das uvas."

Paracelso é o pseudônimo de Phillipus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim.
Médico e astrólogo.

Fundador da química médica, aplicou muitos seguimentos astrológicos na prática da medicina.

Se interessou pela inter relação homem-cosmos.

Paracelso descreve a força vital como uma emanação dos astros.

O Sol está em relação com o coração, a lua com o cérebro, Júpiter com o fígado, Saturno com o baço, Mercúrio com os pulmões, Marte com a bilis e Venus com os rins e os orgãos de geração.

O médico deve conhecer os planetas domicrocosmo, o meridiano, o zodíaco, o oriente e o ocidente, sem o qual não pode descobrir os segredos mais ocultos da natureza.

Nos sete livros do Arquidoxo Mágico escrito por Paracelso, encontramos o seguinte texto:

O SELO DOS PLANETAS - LIVRO VII: Os selos dos planetas, é certo, eles tem força e virtude se se prepraram e se colocam a um tempo conveniente, de acordo com as indicações dos céus. Ninguém pode negar os poderes dos astros e sua influencia sobre todos os mortais de nossa terra. É certo que se os planetas e os astros superiores tem capacidade de exercer suas influencias sobre os humanos, como não há de ser possível que eles mesmos rejam outras coisas tais como metais, pedras, imagens e os minerais? Desde logo que estas forças se imprimem em tudo. É possivel para o homem reunir e agrupar estas forças em algum meio, para poder manejá-las; seja este meio um metal, uma pedra, um mineral ou uma imagem. Os sete planetas possuem toda sua força em seus próprios metais a saber: O Sol é o ouro. A Lua é a prata. Venus é o cobre. Júpiter é o estanho. Mercúrio é o mercurio. Marte é o ferro. Saturno é o chumbo.

“Saibam então que todos os sete metais são nascido de uma matéria tripla, a saber: mercúrio, enxofre e sal, mas com coloridos peculiares e distintos”.
Ele rejeitava as tradições gnósticas, mas manteve muitas das filosofias do Hermetismo, do neoplatonismo e de Pitágoras; de qualquer modo, a ciência Hermética tinha tantas teorias aristotélicas que a sua rejeição do Gnosticismo era praticamente sem sentido.
Em particular, Paracelso rejeitava as teorias mágicas de Agrippa e Flamel. Ele não se achava um mago e desprezava aqueles que achavam que fosse.
Paracelso fazia freqüentes associações entre Magia e Imaginação. "O visível esconde o invisível, mas apesar disso conseguimos o invisível apenas através do visível", dizia.

Nesse caso, magia significa a ação direta sobre as pessoas e todos os seres, sem ajuda da matéria. Ou seja, o mago é capaz de causar efeitos físicos sem ajuda física. No livro Paracelso - Alquimista, Químico, Pioneiro da Medicina, o historiador e filósofo Lucien Braun, cita: "toda natureza invisível se movimenta através da imaginação. Se a imaginação fosse forte o suficiente, nada seria impossível, porque ela é a origem de toda magia, de toda ação através da qual o invisível (de um ou outro modo) deixa seu rastro no visível. A energia da verdadeira imaginação pode transformar nossos corpos, e até influenciar no paraíso...".

Paracelso foi um astrólogo, assim como muitos (se não todos) dos físicos europeus da época. A Astrologia foi uma parte muito importante da Medicina de Paracelso. Em um de seus livros, ele reservou várias seções para explicar o uso de talismãs astrológicos na cura de doenças. Criou e produziu talismãs para várias enfermidades, assim como talismãs para cada signo do Zodíaco. Ele também inventou um alfabeto chamado "Alfabeto dos Reis Magos" e esculpiu nos talismãs nomes angelicais.

Na sua visão hermética, a doença e a saúde do corpo dependem da harmonia do homem com o microcosmo e a Natureza do macrocosmo.


De acordo com Paracelso, a cura apóia-se em quatro bases distintas: filosofia, astronomia, alquimia e virtus.
A filosofia significa: abrir-se ao conjunto das forças naturais, observar essas forças invisíveis na penetração da realidade total e perceber o invisível no visível.
A astronomia explica as influências dos astros na saúde e nas enfermidades.
A alquimia torna-se útil no preparo dos medicamentos.
O termo virtus é uma alusão a honestidade do médico que, através do raciocínio de Paracelso, é uma pessoa em constante evolução e aperfeiçoamento, e deve reconhecer a ação da natureza invisível no doente ou, em se tratando do remédio, como atua no plano visível. Assim, o conhecimento médico tem menos a ver com conhecimento intelectual do que com a intuição.


 
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As Doze Chaves - Basilio Valentim

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007


Chave I

Que a esposa púdica seja unida a seu esposo. A coroa do rei, feita de um metal flavo. Livra a continuação o rei ao homem de um lobo vivaz. Faz isto tres vezes e consume ao lobo por um fogo muito violento. O rei sairá com ele puro de mancha e de seu proprio sangue te poderá renovar.






Chave II

Deixadas suas vestes, que o Sol com Diana sejam desnudos um e outro, para o himeneu desejado, que dois lutadores se faça o precioso banho da esposa, para que ela lave em seu corpo em atenção ao esposo os combatentes combaterem, e quando seu ardor marcial tenha cessado, terão um belo troféu de sua luta.






Chave III

Proveniente da rocha, que o dragão halado seja unido à aguia: Um queimará suas plumas, e o outro fundirá suas neves. Preserva bem teu enxofre com o sal celeste para que o galo devore a raposa maliciosa. O pássaro afogado na onda retomará vida ao fogo, e a sua vez morrerá sob os dentes da raposa.






Chave IV

Toda carne aqui embaixo provém da terra, ao fim de pouco tempo retornará a cinzas; o sal sairá daí, por meio do qual reaparecerá ao dia da carne assim dissolvida, tú que desta maneira queres ver as formas passadas, entrega ao sal em vem do enxofre e o mercúrio.







Chave V

A terra por ela mesma não produz nada, é o espirito quem abastece e sustenta a vida. Toma sua origem dos astros luminosos. Daí todos os metais extraem suas qualidades. A pedra Hercúlea se une com amor ao ferro, assim, nosso leão ama a nosso mercúrio.







Chave VI

Femea e macho unidos fazem germinar a semente. Que então Netuno prepare os banhos requeridos depois que o macho duplo devore um nervoso cisne a fim de que dois percam e recobrem sua vida, quatro ventos soprarão e o rei, pelo fogo, se unirá cheio de amor, a sua esposa querida.






Chave VII

Primavera, verão, outono, água, sal dos Sábios Compõe nosso caos a acalentar ao sol. se sem embargo, dos astros, não há posto pesos justos, nenhuma propicia brisa cumprirá teus desejos. Do firme selo de Hermes, fecha o vidro, por temor a que tua materia não seja presa do errante vento.












Chave VIII

Para apodrecer-se as sementes à terra se confiam. Nossos corpos são postos na tumba, mas para voltar a sair. Assim, todos os elementos se encontram em cada um, se podes, como convém, de um extrair os outros. É isto o fim da obra, a meta de todos os trabalhos; se o tem bem ajustado, obterás dele a chave.







Chave IX

Faz que de um triplo coração cresçam tres serpentes vivas, depois encerra-las juntas em um vaso de cristal. Venus faz admirar a graciola cauda do pavão, e alegra teus olhos com um cisne branco como a neve. Favorito de Saturno, um corvo negro seguirá, e depois dele a asa da águia apresentará suas plumas.













Chave X

A lua ajuda a Hiperión com seus raios. Mercurio sofre o dano, e ele perceberá se não lhe der prontamente seu Jamsuf. Tú que compreendes este verso dá gracias a Jehovah de que um tal entendimento seja outorgado aos mortais.








Chave XI

Como Orfeu a Eurídice, o irmão desposará a irmã, e de seus corpos se verterá o sangue. Junta-lo ao humor cálido do pai e da mãe, depois fecha com cuidado o globo dos Adeptos. então o feróz leão de prolífico corpo Contemplará, feliz, sua numerosa prole.







Chave XII

Se o leão generoso devora a serpente Mercurio te dará flores a milhares. a pedra sem fermento não pode produzir ouro, porém terá muito unida a ele por ingresso. Por ela verá que tudo o que está oculto, e Deus será propício a satisfazer teus desejos.
 
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Basilio Valentim - (1934)

Basilius Valentinus, também conhecido pela versão portuguesa de seu nome, Basilio Valentim (Mainz, 1394) foi um alquimista do século XV.

Ele foi cônego do priorado beneditino de São Pedro em Erfurt, Alemanha.

Não se tem certeza se este era mesmo o seu verdadeiro nome; durante o século XVIII foi levantado a hipótese de tratar-se de Johann Thölde. Até mesmo o ano de seu nascimento não é dado como certo.

Ele demonstrou que o amoníaco podia ser obtido pela ação dos álcalis no cloreto de amônia, e como o ácido clorídrico poderia ser produzido da salmoura ácida.


Foi ele quem primeiro descreveu um método de obtenção de antimônio (em 1492). Suas obras mais conhecidas são Doze Chaves de Basilio Valentim e A Carruagem Triunfal do Antimônio.

Segundo a tradição, foi um dos maiores Alquimistas de todos os tempos.

Foi Beneditino alemão, viveu em Erfust em princípios do século XV; alcançou sua máxima difusão dois séculos mais tarde ao ser impressa sua obra As Doze Chaves, todavia muitos historiadores consideram mítico a este personagem.

O primeiro agente magnético empregado para preparar o dissolvente que alguns chamaram Alkaest, recebe o nome de Leão Verde, devido não tanto à sua coloração senão pelo fato de não haver adquirido todavia os característicos minerais, que distingue quimicamente o estado adulto do estado nascente.

É o embrião de nossa Pedra de nosso Elixir; alguns adeptos, entre eles Basílio Valentin, o chamaram Vitríolo Verde, para expressar sua natureza quente, ardente e salina.“Nossa água toma o nome de todas as folhas das árvores, das próprias árvores e de tudo o que apresenta a cor verde, a fim de enganar aos insensatos” - disse o Mestre Arnoldo de Vilanova.

Basílio Valentin dá o seguinte conselho: “Dissolva e alimente o verdadeiro Leão com o sangue do Leão Verde, pois o sangue fixo do Leão Vermelho é feito do sangue volátil do Verde, porque ambos são da mesma natureza” (O Mistério das Catedrais).

Em seu livro Azoth descreve de forma cifrada os meios para a produção da Pedra Secreta. Pela forma que se expressa, deduz-se que se trata da fórmula do Vitriolo (Visita Interiora Terrae Rectificando Invenies Occultum Lapidem – VITRIOL). Essa frase quer dizer: Investiga o interior da Terra, a qual retificando, encontrarás a pedra secreta.

Em seu livro Testamentum, Basílio Valentin assinala as excelentes propriedades e as raras virtudes do Vitriolo: “É um notável e importante mineral a que nenhum outro na natureza poderia ser comparado, porque o Vitriolo se familiariza com todos os demais metais mais que todas as demais coisas. Alia-se intimamente com ele, pois de todos os demais metais pode obter-se um vitriolo ou cristal, já que se conhecem como uma só e a mesma coisa.
O vitriolo é preferível aos outros minerais e deve conceder-se-lhe o primeiro lugar depois dos metais. Pois embora todos os metais e minerais estejam dotados de grandes virtudes, o vitriolo é o único suficiente para fazer-se a Bendita Pedra, o que nenhum outro no mundo poderia conseguir por si só.
A este propósito digo que é preciso que imprimas vivamente este argumento em teu espírito, que dirijas por inteiro teus pensamentos ao vitriolo metálico e que recorde que confiei-te este conhecimento, de que se pode de Marte (homem) e Vênus (mulher) fazer um magnífico vitriolo, no qual os três princípios se encontrem e que servem para o nascimento e produção de nossa Pedra” (Moradas Filosofais. Págs. 483 e 484).
Valentine Azoth - 15 Imagens
 
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O Breviário - Nicolau Flamel

Consta que teve um estranho sonho.«Viu um livro revestido de uma capa de cobre e cujas folhas, que pareciam ser feitas de cascas finas, ornadas de magníficas ilustrações.


O anjo que em sonhos lho apresentou disse: olha bem este livro; parecer-te-á obscuro como a todo o mundo, mas um dia verás aquilo que é preciso ver e saberás o que ninguém sabe...Adormecido, estendeu a mão para receber o livro mas o sonho desfez-se e acordou subitamente










Este livro mostrado em sonhos a Flamel, ele o descobrirá na realidade como descreve no seu Livro das Figuras Hieroglíficas: «Eu, Nicolau Flamel, escrivão e vizinho de Paris, neste ano de 1399, residindo na minha casa da Rue des Escrivains, perto da capela de St. Jacques de la Boucherie. Ainda que tenha aprendido só um pouco de latim devido aos escassos meios dos meus pais, que, apesar de tudo, eram estimados como gente de bem....Assim pois, quando depois da morte de meus pais, ganhava a vida com a nossa arte da escrita , fazendo inventários, contas, travando os gastos de tutores e de menores, veio-me parar às mão, por dois florins, um livro dourado muito velho e grande. Não era de papel nem pergaminho como os demais, mas de córtices (assim me pareceu) de tenros arbustos. A sua capa era de cobre fino, gravado com letras e figuras estranhas. Creio que poderiam ser caracteres gregos ou de outra língua antiga similar, pois sabia lê-lo e não eram letras ou ornamentos, já que dessa percebo um pouco. No interior, as folhas de córtice estavam gravadas com grande perfeição e escritas com buril de ferro, umas letras latinas coloridas, muito belas e claras. Continha três vezes sete folhas; assim estavam numeradas no alto da folha. A sétima não continha escrito algum. Em vez disso, estava pintado, na primeira sétima, um látego e umas serpentes mordendo-se. Na segunda sétima, uma cruz com uma serpente crucificada.»



Este livro mostrado em sonhos a Flamel, ele o descobrirá na realidade como descreve no seu Livro das Figuras Hieroglíficas: «Eu, Nicolau Flamel, escrivão e vizinho de Paris, neste ano de 1399, residindo na minha casa da Rue des Escrivains, perto da capela de St. Jacques de la Boucherie. Ainda que tenha aprendido só um pouco de latim devido aos escassos meios dos meus pais, que, apesar de tudo, eram estimados como gente de bem....Assim pois, quando depois da morte de meus pais, ganhava a vida com a nossa arte da escrita , fazendo inventários, contas, travando os gastos de tutores e de menores, veio-me parar às mão, por dois florins, um livro dourado muito velho e grande. Não era de papel nem pergaminho como os demais, mas de córtices (assim me pareceu) de tenros arbustos. A sua capa era de cobre fino, gravado com letras e figuras estranhas. Creio que poderiam ser caracteres gregos ou de outra língua antiga similar, pois sabia lê-lo e não eram letras ou ornamentos, já que dessa percebo um pouco. No interior, as folhas de córtice estavam gravadas com grande perfeição e escritas com buril de ferro, umas letras latinas coloridas, muito belas e claras. Continha três vezes sete folhas; assim estavam numeradas no alto da folha. A sétima não continha escrito algum. Em vez disso, estava pintado, na primeira sétima, um látego e umas serpentes mordendo-se. Na segunda sétima, uma cruz com uma serpente crucificada.»


Seria fastidioso descrever aqui o que podereis ler no livro acima citado mas queremos chamar a vossa atenção para a descrição da Quarta Lâmina «Na quarta folha pintou, em primeiro lugar, um jovem com asas nos calcanhares e com um caduceu na mão, rodeado por duas serpentes, com o qual golpeava um capacete que lhe cobria a cabeça. Pareceu-me o deus Mercúrio dos pagãos. Contra ele, vinha correndo e voando, com as asas abertas, um velho que levava um relógio atado na cabeça e nas suas mãos uma gadanha como a Morte, com a qual queria cortar os pés a Mercúrio.»
Flamel não tinha, na altura em que adquiriu o dito livro, um conhecimento profundo da simbologia alquímica porque nesta primeira Lâmina estão indicadas simbolicamente as matérias necessárias à obra. Por isso fez uma peregrinação a Compostela onde encontrou um tal Mestre Canches, um sábio judeu que lhe teria explicado o simbolismo. Na quarta Lâmina a simbologia é mais pormenorizada indicando-nos não só as matérias especificadas na Primeira como também parte do modus operandi.


Le Livre Des Figures Hieroglyphiques não é o melhor e mais explícito de Nicolau Flamel e, nem tão pouco Le Sommaire Philosophique e Le Désir Désiré. Flamel escreveu outro livro menos conhecido mas que é o mais importante: O Brevière ou em Inglês Testament.


Na Introdução do Breviário Nicolau Flamel diz o seguinte:«Eu, Nicolau Flamel, escrivão de Paris, neste ano de 1414 do reinado do nosso príncipe bendito Carlos VI, que Deus abençoou, e após a morte da minha fiel companheira Perrenelle, me tomou de fantasia e de satisfação, recordando-me dela, para escrever em teu favor, caro sobrinho, toda a mestria do segredo do Pó de Projecção ou Tintura Filosofal, que aprove a Deus dispensar a seu insignificante servidor...Segue, portanto, com engenho e entendimento os discursos dos filósofos acerca do segredo, mas não tomes os seus escritos à letra, porque ainda que possam ser entendidos segundo a Natureza não te serão úteis. Por isso, não esqueças de rogar a Deus que te dispense entendimento de razão, de verdade e natureza, para que vejas neste livro, em que está escrito o segredo palavra a palavra e página a página, como eu fiz e trabalhei com a tua querida tia Perrenelle, que recordo imensamente.»


Consta que O Breviário ou Testamento teria manuscrito por Nicolau Flamel nas margens de um Breviário e seria dedicado ao sobrinho de sua mulher Perrenelle.
Daí ele ser extremamente caridoso, escrito em linguagem clara para a época, mas que hoje um alquimista com conhecimentos profundos da Arte poderá entender o que não acontece com os seus anteriores livros. Por isso de um verdadeiro Testamento se trata.





Ao que parece, o Breviário foi encontrado pelo Mestre Dom Antoine-Joseph Pernety do qual teria feito uma cópia ilustrada. Mais tarde o Cavaleiro Denis Molinier, também ele alquimista, adquiriu a cópia de Dom Pernety e anotou nas margens, cuidadosamente, os esclarecimentos complementares que julgou convenientes para a execução desta via, que ele provavelmente fez ou tentou fazer. Essas anotações, embora um pouco confusas e repetitivas, mesmo assim facilitam muito a compreensão do texto.
Resumindo: a obra de Nicolau Flamel tal como a de Ireneu Filaleto é uma via dos amálgamas. O que numa é omisso na outra é descrita quase ao pormenor por esse motivo complementam-se.
In La Alchimie de Flamel ( Le Brevière) d'après manuscrit du Chevalier Denis Molinier (1772). Editions d'Arte Savary, Carcassome, France.












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É inegável que Flamel de repente se tornou capaz de assumir despesas enormes com obras de caridade e deu avultadas quantias para a construção de hospitais em Paris e inclusivamente para a construção da igreja de St. Jacques de la Boucherie.











A tradição popular afirma que no século XVII foram descobertos na adega da casa que pertenceu a Flamel por uma empregada muitos frascos de grés empoeirados que teve a ideia de recuperá-los. Assim esvaziou o conteúdo num riacho, fazendo perder com a sua ignorância, a preciosa provisão de pó de projecção.

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posted by Ana Maiz at 11:19, | 0 comments

LIVRO DE ABRAHAM O JUDEU - N Flamel


PRIMEIRA LÂMINA De ABRAHAM O JUDEU
Rubellus Petrinus


A interpretação das imagens com simbolismo alquímico não é uma tarefa fácil porque cada um tem a sua própria interpretação mas a Primeira Lâmina de Abraham o Judeu não é difícil de interpretar se conhecerdes as matérias e o modus operandi da obra de Flamel. As outras lâminas não são assim tão fáceis de interpretar no que respeita ao modus operandi.
A via de Flamel é uma via mista ou via do amálgamas assim, o velho empunhando um gadanho simboliza Saturno tal como nas Doze Chaves de Basílio Valentim. Saturno como todos os alquimistas sabem não é um mineral ou metal volátil, por isso o velho alado não pode ser Saturno porque ter asas significa voar e, por isso, ele terá de ser um metal ou mineral volátil.
Flamel chama-lhe Saturnia e não Saturno. Saturnia na obra de Flamel é o régulo de antimónio. Qualquer alquimista sabe que o régulo de antimónio é um metal volátil isto é, pode ser sublimado assim, o velho alado não simboliza Saturno mas o régulo de antimónio.
Aqui, o velho alado tenta cortar os pés de Mercúrio, isto é cortar a volatilidade do mercúrio. Como?
Com as devidas precauções numa pequena tigela de aço inoxidável tentai amalgamar o régulo de antimónio em pó com o azougue comum. Nunca o conseguireis! Nem com a ajuda de Vulcano o podereis fazer!
Então, como o velho alado pode cortar os pés ao Mercúrio? Ele só o poderá fazer com a ajuda da areia vermelha do relógio de areia que tem sobre a sua cabeça. A areia é vermelha e do lado direito do relógio podereis ver dois símbolos espagíricos da areia ou pó. O pó vermelho é a chave para amalgamar o régulo de antimónio em pó e o azougue; isto é o Sol ou ouro.
Isto é a primeira parte da obra de Flamel: fazer um régulo solar e reduzi-lo a pó e em seguida amalgamá-lo com o azougue e destilar o amalgama numa retorta desmontável de aço inoxidável.
Descrevemos isto em linguagem clara porque o Mestre também o fez no seu livro.
Podereis facilmente confirmar isto no Testamento (Testament) de Flamel que podereis encontrar facilmente na Web de McLean:
http://www.vevity.com/alchemy/fr-index.html
Flamel no Testamento ou no Breviário não se refere a tempo astrológico ou estações do ano ou outras coisas deste género, pelo menos não nos demos conta disso.




A QUARTA LÂMINA DE ABRAHAM O JUDEU
Rubellus Petrinus
A figura principal desta lâmina é uma serpente crucificada. A serpente como se sabe é um animal frio e venenoso. Assim, o seu simbolismo alquímico será um mineral ou um metal frio e venenoso também.
Porque foi crucificada a serpente?
No lado esquerdo do braço da cruz onde a serpente está pregada, do lado direito do prego, vê-se o símbolo espagírico de Marte.
No braço do lado direito e do lado direito do prego, vê-se um símbolo parecido com um 8. Alquimicamente este símbolo aqui não faz sentido. Examinámo-lo com uma lupa e verificámos que é um globo crucífero com contornos mal definidos.
Então qual é o significado simbólico da serpente?
É fácil entender o seu simbolismo por causa dos dois símbolos espagíricos. Marte e o Globo crucífero. Na verdade a serpente é Satúrnia como é designada por Flamel no Brèviére ou Testament e é fria e venenosa como uma serpente.
Porque foi a Saturnia crucificada? Ela foi crucificada (morta) para fazer o amálgama filosófico.
Continuando. No cimo da cruz vê-se o símbolo espagírico do Sol e no centro o do Mercúrio. Os dois juntos com a Satúrnia formam o amálgama que será posteriormente destilado.
Mas há mais. Olhai a parte inferior do crucifixo. Que vedes? Os símbolos espagíricos da Lua e do amalgama (os mesmos pequenos círculos que se podem ver na ilustração p 209 na L'Alchimie de Flamel).
Alquimicamente a cruz ou crucifixo pode simbolizar duas coisas: um cadinho ou a morte (putrefacção do composto).
Aqui, a cruz significa simbolicamente, a morte do composto (amálgama filosófico) Sol ou Lua (enxofre) e o Mercúrio.
Macho e fêmea, isto é o Andrógeno!
In L'Alchimie de Flamel, Editions Savary, 42 rue Barbés, 11000 Carcassonne, France.
 
posted by Ana Maiz at 10:04, | 1 comments

Nicolas Flamel - (1330 a 1418)

Nicolas Flamel nasceu em 1330 em Pontoise, na França, e foi um dos maiores alquimistas da história.

Aos vinte e oito anos compra um antigo livro de autoria de Abraham, o Judeu, que continha textos intercalados com desenhos de serpentes, virgens, desertos e fontes d'água. Achou muito intrigante o livro e passou a estudá-lo, descobrindo que se tratava de cabala e alquimia.


“Quando faleceram meus pais tive que ganhar o pão escrevendo; naquele tempo adquiri um livro dourado, muito velho e volumoso. O livro compunha-se de três fascículos de sete folhas cada um e a sétima folha de cada um aparecia em branco. Na primeira folha via-se um báculo em torno do qual apareciam enroscadas duas serpentes; na segunda, uma cruz da qual pendia outra serpente e na sétima podia ver-se um deserto, no centro do qual brotavam formosas fontes; porém delas não saiam água senão serpentes que se arrastavam em todas as direções."


Na fachada do livro, lia-se: “O judeu Abraham, príncipe, sacerdote, levita, astrólogo e filósofo”. Na terceira folha explicava-se como se transformavam os metais. Junto ao texto reproduziam-se dois recipientes, davam as cores e todos os detalhes, exceto a Pedra Filosofal, a qual aparecia reproduzida com grande arte e forma tal que cobria por completo as páginas quatro e cinco”.


Posteriormente, Flamel mandou colocar essas figuras no cemitério parisiense dos inocentes. Dos relatos houve um que o impressionou bastante: “Um rosal florido no meio do jardim; no solo junto às rosas uma fonte da qual emanava água branquíssima, que logo a uma distância respeitável precipitava-se num abismo. Muitas pessoas cavavam ao longo de seu curso, com as mãos na terra, tratando de encontrar a fonte, porém não conseguiam êxito porque eram cegas; somente um foi capaz – ele encontrou a água”.


Esta é realmente uma das maiores simbologias Alquimistas, pois expressa claramente o significado do Grande Arcano. A rosa indica a cristalização dos corpos solares. A fonte simboliza a transmutação; é a fonte da água viva da qual falava Jesus. A humanidade inconsciente busca essa fonte e apesar de tê-la tão perto não a encontra; a água é desperdiçada, caindo nos abismos. Somente o adepto, o Iniciado, é o único capaz de valorizar as águas seminais.


Flamel finalmente conseguiu captar o sentido dos processos, porém seguia sem compreender o processo da matéria prima. Consultou então sua esposa Perenelle, a qual imediatamente dedicou-se com idêntico fervor a estudar o misterioso livro. Com isto, Nicola Flamel nos indica que é necessária a mulher para realizar a Grande Obra.


Marchou logo em peregrinação até o sepulcro do apóstolo Santiago, na Espanha, encontrando-se com o Mestre Canché, o qual indicou-lhe os fundamentos do Magistério. Flamel narra sua Iniciação da seguinte maneira: “Todavia trabalhei uns três anos, até que finalmente encontrei o elixir (havia trabalhado 21 anos) que imediatamente se reconhece por seu forte odor. Primeiro o projetei sobre uma libra e meia de mercúrio e obtive desse modo igual quantidade de prata; isso ocorreu em minha casa, estando presente unicamente minha esposa Perenelle; mais tarde, atendo-me escrupulosamente a cada palavra de meu livro, projetei a pedra vermelha sobre uma quantidade quase igual de mercúrio na mesma casa e de novo estava presente minha esposa Perenelle. Realizei a obra por três vezes com a ajuda de Perenelle, pois como havia-me ajudado no trabalho, o entendia exatamente como eu”.



Escreveu "O Livro das Figuras Hieroglíficas" em 1399, "O Sumário Filosófico" em 1409 e "Saltério Químico" em 1414.


Flamel deixou um testamento escrito a seu sobrinho, em que revelava os segredos que descobrira sobre a alquimia. O "Testamento de Nicholas Flamel" foi compilado na França no final dos anos 1750 e publicado em Londres em 1806. O documento original foi escrito de próprio punho por Nicholas Flamel em um alfabeto codificado e criptografado que consistia em 96 letras. Um escrivão Parisiense chamado Father Pernetti o copiou e um Senhor de Saint Marc pôde finalmente quebrar o código em 1758.



CURIOSIDADES:
- A casa de Flamel em Paris, construída em 1407, ainda existe. Situa-se 51 rue de Montmorency, e é hoje um restaurante.
- É citado na série Harry Potter como tendo realmente conseguido criar a pedra filosofal.
- É citado também no livro O Código Da Vinci como sido um dos grão-mestres do Priorado de Sião.

- A lenda conta que, na realidade, ambos, Flamel e Perrenelle, não morreram, e que em suas tumbas foram encontradas apenas suas roupas em lugar de seus corpos. Especula-se que Flamel possivelmente tenha enconrado a fonte da longevidade. Estudos orientais confirmariam isso. Outra possíbilidade é ter ultrapassado a barreira das dimensões.
 
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ARS MAGNA e ARS DEMONSTRATIVA- Raimundo Lulio

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007




ORIGINAL: Biblioteca del Monasterio del Escorial ( Madrid ) Referencia Ms. 8c.IV.6
AUTOR: Raimundo Lulio
SIGLO: S. XVI
PÁGINAS: 162
MINIATURAS: 29 figuras, 8 de las cuales son superposición de círculos concéntricos que giran sobre su eje.
ENCUADERNACIÓN: Pergamino impreso y envejecido.
TAMAÑO: 205 x 145 mm.
IDIOMA: LATÍN

ARS MAGNA: UM COMPENDIO DE SABEDORIA TEOLÓGICA
O Ars Magna, obra fundamental do filósofo mallorquino Raimundo Lulio, é uma antologia baseada principalmente na Ars Demonstrativa e outras obras do mesmo período. o manuscrito contem extratos, resumos ou remodelações de obras autenticas e trata de demonstrar a existencia de Deus mediante catorze razões atribuidas a cada um deles sua propria lacuna que é consecutiva da primeira. toma como principio as virtudes de bondade, glória, perfeição, justiça, nobreza, etc. Provando que Deus existe se determina que existem nele todas as virtudes mencionadas.

ARS DEMONSTRATIVA

 
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Ars Brevis Introdução - Raimundo Lúlio

Como então determinar adequadamente o estatuto da Arte como ciência?


1. Para começar, deve-se constatar que a Arte luliana assenta-se sobre dois pilares, sendo o primeiro deles o chamado alfabeto que Lúlio introduz no início da Ars brevis e que se pode resumir da seguinte maneira :





A primeira série de princípios que aqui se reproduzem costumam chamar-se princípios absolutos, ainda que esta denominação não seja de Lúlio, que em suas primeiras obras os denominava dignitates passando depois a chamá-los simplesmente principia .
Tanto a palavra dignitas como o nome principia remetem à tradição aristotélica dos Analitica posteriora, onde se estabelece que cada ciência parte de princípios per se nota que não podem ser comprovados, ao menos não pela própria ciência.












Seguindo esta tradição, estes princípios também são indemonstráveis para Lúlio. E mais, são os mesmos atributos de Deus que, como causas exemplares, são ao mesmo tempo os principia essendi e os principia intelligendi da criação. Justamente por isso, não podem ser provados, já que são a condição da possibilidade do ser e do conhecer. Mas –e com isto voltamos à intenção dialogante de Lúlio– também não é necessário demonstrá-los, porque representam um lugar comum das três grandes religiões de livro.








Assim, o judaísmo conhece as dignitates sob o nome sefirot, enquanto que o islamismo as chama hadras. Ou seja, Lúlio parte na sua Arte dos pressupostos comuns das três grandes religiões monoteístas: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.








Enquanto estes atributos divinos, segundo Lúlio, são indistinguíveis quando estão em Deus, sim que se podem diferenciar e relacionar quando estão realizados na criação, pelo que Lúlio introduz em segundo lugar uma série de princípios relacionais como «diferença», «concordância», «contrariedade», etc., que abarcam todos os seres intra-mundanos. Com isto, a cosmovisão de Raimundo Lúlio possui dois eixos, um vertical que religa a criação à sua causa transcendente mediante os princípios absolutos, sendo estes as causas exemplares do mundo; e outro horizontal que descreve o dinamismo entre as criaturas a partir das diferentes relações que se dão entre elas.



Pode-se dizer, e já foi dito, que estes princípios relacionais juntamente com os princípios absolutos constituem todo o fundamento da Arte luliana, enquanto os demais conceitos do alfabeto, ou seja, as perguntas, os nove sujeitos e as virtudes e os vícios, seriam suas ferramentas de pesquisa.







Resumo:

O Ars brevis consiste em quatro figuras e uma figura de alfabeto.
A primeira figura "A" Lulio chama de "dignidades". As dignidades são extraídas diretamente da lógica escolastica, John Scotus de Erigena; conectando todas as linhas é possível criar permutações de todas as dignidades (à excecção dos tautologicals).
A segunda figura T é realmente 3 triângulos sobrepondo, cada um com sub-especies que são associados com eles (1: diferença, concordia, oposição; 2: começo, meio, extremidade; e 3: major, igualdade, menores).
A terceira figura é uma tabela das combinações na primeira figura
A quarta figura é realmente móvel e permite a permutação nos grupos de três de todas as letras.
Além das figuras, há 18 princípios que devem ser aprendidos pelo coração a fim operar o dispositivo
A fim fazer um oráculo, há nove vezes modos da fazer perguntas.
Finalmente há três jogos de nove: Assuntos, virtures e vicios, que são usados também fazer perguntas .

 
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Ars Brevis - Raimundo Lúlio


O segundo pilar da Arte Luliana, a saber, seu caráter formal, que se expressa nas quatro figuras

A primeira delas chama-se Figura A –letra que Lúlio não utiliza em seu alfabeto e que em obras anteriores, como a Ars maior, havia reservado a Deus–. A figura consta de dois discos de diferente tamanho superpostos, em cujas respectivas periferias trazem inscritos os princípios absolutos; no disco menor em sua forma predicativa (bonum, magnum, etc.) e no disco maior em forma de substantivo (bonitas, magnitudo, etc.). Além disso, no interior do círculo, diversas linhas interconectam as casas dos diferentes princípios absolutos entre elas, e assim esta figura demonstra claramente a mútua predicabilidade e a convertibilidade de tais princípios em Deus. De fato, nesta figura se descobre todo o segredo da famosa demonstratio per aequiparantiam de Lúlio, que não faz outra coisa senão basear a demonstração sobre a convertibilidade dos princípios absolutos em Deus, para mostrar, entre outras coisas, sua Trindade. Contudo, esta figura não é exclusivamente teológica, mas também se aplica à criação, na medida em que nela se encontram realizados os princípios absolutos. De maneira que se Pedro é bom, segundo Lúlio, também se lhe pode atribuir a magnitude, ainda que então os princípios percam seu caráter universal e se convertam em princípios particulares. Portanto, diz Lúlio, esta figura serve para descer do universal ao particular e vice-versa. É este o caminho que ao tratar dos princípios se havia apostrofado como a dimensão vertical da Arte.




A segunda figura, de nome T, põe em ordem sistemática os princípios relacionais, agrupando cada três deles nos três vértices de um triângulo, de maneira que se geram três triângulos que nos manuscritos da Ars brevis costumam vir coloridos em verde, vermelho e amarelo. O triângulo verde contém em seus ângulos «diferença», «concordância» e «contrariedade», termos que se distinguem segundo o âmbito da realidade à qual são aplicados. Estes âmbitos se indicam pelas casas que se encontram por cima dos respectivos ângulos, mostrando, por exemplo, que podem existir «diferença», «concordância» ou «contrariedade» entre dois entes espirituais, ou entre um ente espiritual e outro sensível, ou ainda entre dois entes sensíveis. Da mesma maneira, o triângulo vermelho que representa o princípio, o meio e o fim, possui suas subdivisões, podendo ser o princípio causal, quantitativo e temporal. Enquanto o meio pode ser meio de conjunção, da medida ou dos extremos, como a linha entre os pontos. O fim pode ser de privação, como a morte, de limite ou de perfeição. Finalmente, o triângulo amarelo contém os conceitos «ser maior», «igualdade» e «ser menor», os quais podem referir-se às relações existentes entre duas substâncias, dois acidentes ou uma sustância e um acidente. Com esta figura, Lúlio estende ante os olhos de seus leitores a compenetração horizontal da qual se falou antes.






A figuras A e T são retomadas e unidas por Lúlio na terceira figura, que é também a primeira figura de caráter combinatório consistindo de 36 casas com combinações binárias da forma BC, BD, BE, etc., que se agrupam em oito colunas. Estas 36 casas resultam de nove elementos combinados dois a dois sem repetição: 9!/[(9‑2)! X 2!]=36. Cada uma destas letras pode ser tanto predicado como sujeito de uma predicação, podendo-se-lhe atribuir além disso tanto o valor dos princípios absolutos como o dos princípios relacionais. Ao procedimento de desenvolver o conteúdo polissêmico de cada casa, Lúlio dá o nome de evacuatio: Tomando, por exemplo, B como sujeito e C como predicado, a casa BC significa: Bondade é grande, ou: Bondade é concordante. Assim como: Diferença é grande, ou: Diferença é concordante. Já se tomarmos C como sujeito e B como predicado, a casa significa: Magnitude é boa, ou: Magnitude é diferente. Assim como: Concordância é boa, ou: Concordância é diferente. De uma só casa são extraíveis assim oito proposições, às que cabe acrescentar as proposições que resultam da combinação BB e CC que Lúlio não menciona aqui, mas que tem em conta, e assim o número das possíveis proposições sobe para doze. A estas, por sua vez, aplicam-se as perguntas nelas contidas, de maneira que as proposições da casa BC são consideradas sob as perguntas «se» (B) e «que?» (C): Se a bondade é grande, que é bondade grande?, etc. Deste modo, Lúlio pretende encontrar uma cópula que relacione o predicado e o sujeito para chegar a juízos seguros, pelo que esta figura também foi chamada a figura do juízo.






Assim como a terceira figura resume as duas figuras precedentes, a quarta e última figura integra todas as figuras até aqui expostas. Esta figura consiste de três discos marcados pelas letras do alfabeto luliano em sua periferia, sendo que os dois interiores são móveis. Ora, se se fazem rodar estes discos, resultam 252 combinações ternárias sem repetição significando para Lúlio a letra que está no centro da combinação o terminus medius do silogismo. Na combinação ternária BCD, por exemplo, BC seria a propositio maior, CD a propositio minor, C o terminus medius e BD a conclusão. A função desta figura é precisamente forjar para o pesquisador os termos médios para que ele possa chegar a conclusões seguras: “E assim, pelos [termos] médios das casas, o homem caça as conclusões necessárias e as encontra” . Por isso, esta figura também recebeu o nome de figura silogística. Para acabar de descrever esta figura, cabe assinalar que as combinações ternárias resultantes desta são –como as combinações da figura anterior– ambivalentes, já que podem receber tanto o valor dos princípios absolutos como o dos princípios relacionais.






Para diferenciar estes significados, Lúlio esboça na Ars brevis as primeiras colunas de uma Tabula que em sua totalidade conta com 84 colunas de 20 elementos cada uma, ou seja, com um total de 1680 combinações. O número elevadíssimo de perguntas que Lúlio gera desta maneira, para apresentá-las ao juízo racional, é expressão de seu afã de querer abarcar toda asserção possível sem excluir nenhuma delas de antemão. Pode-se dizer, pois, que a função das figuras é garantir que no diálogo inter-religioso nenhuma combinação possível dos princípios básicos, compartilhados por todas as religiões, fique fora de consideração, ao mesmo tempo que seu desdobramento sistemático facilita à razão sua tarefa de julgar e chegar à verdade.



 
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Raimundo Lúlio - (1232/1233 — 1315/1316)

Raimundo Lúlio, em catalão Ramon Llull, Palma de Maiorca; também conhecido como Raimundo Lulio em castelhano, como Raimundus ou Raymundus Lullus por autores extrangeiros e como Raymond Lully pelos anglo-saxões) foi o mais importante escritor, filósofo, poeta, missionário e teólogo da língua catalã. Foi discípulo de Arnoldo de Vilanova

Foi um prolífico autor também em árabe e latim, bem como em Langue d'Oc (occitano). É beato da Igreja Católica.


Conhecido em seu tempo pelos apelidos de Arabicus Christianus (árabe cristiano), Doctor Inspiratus (Doutor Inspirado) ou Doctor Illuminatus (Doutor Iluminado), Llull é uma das figuras mais fascinantes e avançadas dos campos espiritual, teológico e literário da Idade Média. Em alguns de seus trabalhos propos metodos de escolha, que foram redescobertos séculos mais tarde por Condorcet (século XVIII).





Raimundo Lúlio abandona a vida que leva em Maiorca para procurar a cura de um cancro maligno para a sua amada. Em pleno período histórico dos Templários, a sua viagem traz-lhe bem mais do que isso: uma vidaerrante de iniciação nos mistérios da Alquimia que o fará jurar perante soberanos e papas que encontrou a fórmula para harmonizar as três religiões ? cristã, muçulmana e judaica ?, integrando conhecimentos das ciências e da teologia.

Os escritos que nos foram legados do grande estudioso maiorquino superam em sua totalidade o número de 250 obras que somam cerca de 27.000 páginas.


Raimundo Lulio, em seu livro Clavículas, diz: “Por isso os aconselho que não obreis com o Sol (homem) e com a Lua (mulher) senão depois de havê-los levado a sua matéria prima (energia sexual) que é o enxofre e o mercúrio dos filósofos. Ó filhos meus! Aprendei a servi-vos dessa matéria venerável, porque os advirto sob a fé de juramento, de que se não sacais o mercúrio desses metais, trabalhareis como o cego na obscuridade e na dúvida. Por isso, ó filhos meus! Os conjuro a que marcheis até a Luz com os olhos abertos e não caiais como cegos no Abismo”.
Nicola ABBAGNANO:"LULLIANA, ARTE (lat. Ars lulliana; inglês Lullic Art; franc. Art lullien; al. Lullische Kunst). Propriamente, a ars magna de Raimundo LÚLIO (1235 - 1315), isto é, a ciência universal que ensina a combinar os termos para a descoberta sintética dos princípios das ciências. Diferentemente da lógica aristotélica, a ars magna pretende ser um procedimento inventivo que não se detém em resolver as verdades conhecidas, mas continua para descobrir as novas. A noção dessa arte, que encontrou seguidores entusiastas no Renascimento, entre os quais Agripa, Bovillo e Bruno, foi retomada por Leibniz, que a denominou Característica geral." (Dicionário de filosofia. Trad. Alfredo Bosi [Dizionario di filosofia]. S. Paulo, Mestre Jou, 1982. pág. 604)

Walter BRUGGER, SI:"Raimundo LÚLIO (1235 - 1315): agitada vida de peregrino; luta contra o Islão e o averroísmo latino; poeta, filósofo, teólogo e místico; LÚLIO aspirava a uma Ars generalis, um sistema de conceitos fundamentais supremos e proposições, dos quais se pudessem, por meio de combinações e operações mecânicas, deduzir as ciências particulares. A última forma literária de suas idéias encontra-se na Ars magna et ultima. LÚLIO é o precursor da Ars combinatoria de Leibniz e da logística." (Diccionario de filosofía. Trad. José Maria Vélez Cantarell [Philosophisches Wörterbuch. Freiburg, Herder, 1951]. Barcelona, Herder, 1953. pág. 451)

Otto Maria CARPEAUX:"(...) O símbolo é expressão artística do que é inefável; a alegoria é representação intelectual do que é compreensível. A Catedral é um símbolo. A Summa é um conjunto de alegorias. A "Idade Média" está entre esses dois pólos, oscilando, evoluindo, e enfim dissolvendo-se. Existe até uma figura na qual os dois termos se encontram: Raimundus LULLUS, o santo da Catalunha. "LULLUS é fenômeno raro: um gênio confuso. O caminho da sua vida é retilíneo: vida mundana, desengano, conversão, ascese, projetos de converter sarracenos e judeus, obstáculos eclesiásticos, viagens de missão, martírio. Os altos dignitários da Igreja chamaram-lhe doctor phantasticus, apelido que não convém às suas obras científicas, nem às literárias, mas sim ao conjunto destas e daquelas. Como poeta, LULLUS é um joglar de Déu; queimou as poesias eróticas da sua mocidade, substituindo-as pela poesia religiosa, a mais pessoal que se escreveu na Idade Média. Lo cant de Ramón, confissão poética, seria o pendant sério da poesia goliarda. As tentativas filosóficas de criar um ciência geral, que suscitaram a admiração de Leibniz e antecipam algo da logística moderna, pertencem, em certo sentido, ao gênio poético de LULLUS: pretendem transformar o mundo em catedral de símbolos científicos. Mas o conflito entre entusiasmo místico e razão construtiva subsiste. No estranho romance filosófico Llibre de meraveles decompõe-se o mundo em alegorias, e o mais estranho romance Blanquerna exalta a dissolução do mundo real pela mística. LULLUS pretendeu reduzir a fórmulas alegóricas o inefável, que se tinha revelado ao místico em símbolos; era um poeta pela ambigüidade íntima da sua alma. O resultado de sua vida encontra-se em um dos seus Mil Provérbios: 'Quem disputa com Deus, será vencido'; mas o místico pretende mesmo ser vencido por Deus. "O caminho da separação progressiva entre símbolo e alegoria é o caminho de evolução do pensamento medieval." (História da literatura ocidental, I. Rio, Alhambra, 1978. pág. 161-2)

Mircea ELIADE:"(...) a virtude primeira da Pedra reside na sua capacidade de transformar os metais em ouro (...) A idéia de que a Pedra precipita o ritmo temporal de todos os organismos e acelera o crescimento, encontra-se na Prática de Raimundo LÚLIO: 'Na primavera, mediante o seu grande e maravilhoso calor, a Pedra comunica vida às plantas; se dela dissolveres na água a quantidade aproximada de um grão e se, tomando dessa água a porção necessária para encher a casca de uma avelã, regares com ela um tronco de videira, a tua capa estará em maio carregada de uvas maduras'." (Ferreiros e alquimistas. Trad. Roberto Cortes de Lacerda [Forgerons et alchimistes. Paris, Flammarion Editeur, 1977]. Rio, Zahar Editores, 1979. pág. 129)

Julius EVOLA:"Apontemos (...) as freqüentes referências ao vinho nos textos mais recentes, a partir de Raimundo LÚLIO, e repitamos que umas vezes se trata dum símbolo e outras, de uma realidade, ou de ambas as coisas ao mesmo tempo. Citaremos um só texto: 'É admirável, e incrível para o vulgo, que o espírito do vinho - extraído e separado completamente do seu corpo [quer dizer, trata-se de recolher o aspecto sutil da experiência proporcionada pelo vinho] - valha, pelo seu contínuo movimento de circulação, para extrair... quaisquer outros espíritos dos seus corpos: quer vegetais (...), quer minerais (...), quer animais (...) ... A Quinta-virtus-essentia-prima do Vinum atrai os vires [os poderes, a virilidade] de todos os seres infusos nela: desembaraçando-os dos elementos por dissolução do vínculo natural, e conseguindo os Espíritos, por apetência e reação, elevar-se por cima das resistências passivas'." (A tradição hermética. Trad. Maria Teresa Simões [La tradizione ermetica. Roma, Mediterranee, 1971]. Lisboa, Edições 70, 1979. págs. 153-4)

Kurt FLASCH:"(...) LÚLIO foi um outsider; sua obra demonstra a riqueza da paisagem histórica no começo do século XIV. Os juízos sobre ele estendem-se do "semilouco" de Prantl ao elogio segundo o qual LÚLIO seria o mais conseqüente e homogêneo de todos os filósofos cristãos (E. W. Platzeck). Em muitas exposições do pensamento medieval - p. ex., no opúsculo de Josef Pieper sobre a escolástica - procura-se em vão pelo nome de LÚLIO. Esse silêncio é, em todo caso, injustificado, quando se trata de uma avaliação histórica ou de examinar a conexão entre as Idades Média e Moderna: LÚLIO foi uma fonte essencial para Giordano Bruno; Nicolau de Cusa não possuía tantos textos de nenhum outro pensador quanto de LÚLIO; Descartes polemizava contra ele; Leibniz e Lessing estudaram-no. Não se pode prescindir do Lulismo nas discussões sobre o método científico do início da Idade Moderna. No século XIV, ele foi ao encontro dos movimentos de reforma joaquimitas. A ciência escolástica de Paris encarava-o de modo preconceituoso, se bem tenha havido lá tentativas regulares de elucidar de forma sistemática a doutrina de LÚLIO. Em 1376, chegou-se a uma condenação papal de teses lulianas que, porém, seria suspensa em 1419. A repercussão de LÚLIO associou-se, freqüentemente, a experimentos de alquimia. Contudo, ele próprio nada tinha que ver com isso, sim, porém, com a astrologia e uma reforma da medicina."Na investigação científica, a imagem de LÚLIO é oscilante, e é difícil informar-se sobre ele com base nas próprias fontes - a envergadura de seus escritos já assusta: o catálogo de suas obras conta, segundo Platzeck, 292 títulos. Foram escritas parte em latim, parte em catalão. LÚLIO também escreveu em árabe, mas esses textos se perderam ou foram preservados apenas em traduções. Essa massa enorme é difícil de dominar; ajuizá-la exigiria a competência não apenas de um historiador da filosofia, mas também a de um romanista - LÚLIO é tido como o pai da literatura catalã - e a de um historiador da ciência. Vários textos ainda não foram editados. Mas o estudo de LÚLIO tem-se tornado mais fácil nos últimos decênios: a grande edição de Mogúncia, que era rara, está novamente disponível desde 1965, numa reimpressão em 8 volumes. As obras tardias de LÚLIO aparecem, ininterruptamente, nos marcos da Opera Latina, e também seus escritos catalãos podem ser estudados. Uma introdução à vida e ao pensamento de LÚLIO encontra-se no esboço de autobiografia (Vita coetanea), publicado em alemão, em 1964, em Düsseldorf (E. W. Platzeck), e cujo texto crítico em latim está disponível, desde 1980. Quem quiser iniciar-se no pensamento de LÚLIO, pode agora utilizar os excertos de seus escritos que Nicolau de Cusa compilou para si mesmo. A elucidação do conteúdo do pensamento de LÚLIO também fez alguns progressos."LÚLIO foi um espírito inquieto. Da tradição, não deixou quase nada intocado; queria renovar tudo - a cristandade, a coexistência das religiões, a lógica e a medicina, a filosofia e a teologia; antes de tudo, porém, a linguagem. Procurava a variação; repugnava-lhe a linguagem vulgar das escolas. Sua mania de inovar na terminologia foi criticada já na Idade Média (J. Gerson), ao passo que de Cusa a imitava. (...)" (Das philosophische Denken im Mittelalter. Von Augustin zu Machiavelli [O pensamento filosófico na Idade Média. De Agostinho a Maquiavel]. Stuttgart, Philipp Reclam jun., 1988. p. 381-2.).

Charles GUIGNEBERT:"Imbuídos de modernismo, alguns declaram, até nas Escolas de Paris ou de Oxford, que a filosofia deve ser independente da teologia e que, além disso, a fé cristã é um obstáculo para o progresso do saber. Enquanto o arcebispo de Paris, Esteban Tempier, condena 919 erros dos averroístas, em 1277, e os arcebispos de Canterbury e da Universidade de Oxford seguem seu exemplo, organiza-se uma espécie de cruzada entre os doutores ortodoxos contra a nova incredulidade que é transmitida descendentemente das Escolas às classes inferiores em forma de um materialismo grosseiro; tanto que preocupará à Inquisição, por exemplo, em Carcasona e Pamiers, no começo do século XIV."De resto, essa cruzada intelectual não tem muito maior êxito que as outras; alguns doutores, como o famoso Raimundo LÚLIO (+ 1315), deixam-se contaminar pelas doutrinas que intentam destruir. Nenhum encontra argumentos decisivos contra o averroísmo e termina por impor-se com a tolerância, inconcebível por outro lado, da Igreja, quer se encerrando em pequenos cenáculos (por exemplo, em Pádua e em Bolonha), quer se desvanecendo sob aparências tranqüilizadoras, em um sincretismo bastante surpreendente. Combinam-se nele as especulações do filósofo árabe, os postulados essenciais da dogmática ortodoxa e divagações sobre a relação das influências astrais e o destino humano." (El cristianismo medieval y moderno. Trad. Nélida Orfila Reynal [Le christianisme médiéval et moderne. Paris, Ernest Flammarion, 1927]. México - Buenos Aires, Fondo de Cultura Económica, 1957. pág. 120)

G. W. F. HEGEL:"Chamado de Doctor illuminatus, Raimundo LÚLIO chegou a ser muito famoso, sobretudo pela arte de pensar composta por ele e a que deu o nome de Ars magna. Nasceu em Maiorca, em 1234, e foi um desses homens excêntricos e impulsivos que se metem em tudo. Tinha marcada afeição pela alquimia e um grande entusiasmo pelas ciências em geral, bem com uma imaginação fogosa e inquieta. Teve uma juventude dissipada e entregue aos prazeres e às diversões; mais tarde, retirou-se a um lugar ermo e teve ali muitas visões de Jesus Cristo. Levado pelo seu agitado temperamento, sentiu-se impelido pelo desejo de contribuir para a difusão da doutrina cristã entre os maometanos da Ásia e da África, consagrando sua vida a essa missão; para isso, aprendeu o árabe, viajou por toda a Europa e a Ásia e buscou o apoio do papa e de todos os monarcas da Europa, sem abandonar por isso o cultivo de sua arte. Foi perseguido e teve de suportar incontáveis penalidades, aventuras, perigos de morte, prisões e maus tratos. Viveu durante longo tempo em Paris, no começo do século XIV, e compôs cerca de quatrocentos escritos. Ao cabo de uma vida extraordinariamente agitada, morreu venerado como santo e mártir, no ano de 1315, em conseqüência dos maus tratos sofridos na África."A tendência fundamental da "arte" de Raimundo LÚLIO consistia em enumerar e ordenar todas as determinações conceituais a que era possível reduzir todos os objetos, as categorias puras com referência às quais podiam ser determinados, para, desse modo, poder assinalar facilmente, com respeito a cada objeto, os conceitos a ele aplicáveis. Raimundo LÚLIO é, pois, um pensador sistemático, ainda que ao mesmo tempo mecânico. Deixou traçada uma tabela em círculos nos quais se acham inscritos triângulos cortados por outros círculos. Dentro desses círculos, ordenava as determinações conceituais, com pretensões exaustivas; uma parte dos círculos é imóvel, a outra tem movimento. Vemos, com efeito, seis círculos, dois dos quais indicam os sujeitos, três os predicados e o sexto as possíveis perguntas. Dedica nove determinações a classe, designando-as com as nove letras B C D E F G H I K. Obtém, desse modo, nove predicados absolutos, que aparecem escritos ao redor de seu quadro: a bondade, a magnitude, a duração, o poder, a sabedoria, a vontade, a virtude, a verdade, a magnificência; em seguida, vêm nove predicados relativos: a diferença, a unanimidade, a contraposição, o princípio, a metade, o fim, o ser maior, o ser igual e o ser menor; em terceiro lugar, temos as perguntas: sim?, quê?, de onde?, por quê?, quão grande?, de que qualidade?, quando?, de onde?, como e com quê?, a última das quais encerra duas determinações; em quarto lugar, aparecem nove substâncias (esse), a saber: Deus (divinum), os anjos (angelicum), o céu (coeleste), o homem (humanum), Imaginativum, Sensitivum, Vegetativum, Elementativum; em quinto lugar, nove acidentes, quer dizer, nove critérios naturais: a quantidade, a qualidade, a relação, a atividade, a paixão, o ter, a situação, o tempo e o lugar; por último, nove critérios morais, que são as virtudes: a justiça, a prudência, a valentia, a temperança, a fé, a esperança, o amor, a paciência e a piedade, e nove vícios: a inveja, a cólera, a inconstância, a avareza, a mentira, a gula, a devassidão, o orgulho e a preguiça (acedia). Todos esses círculos tinham de ser colocados necessariamente de determinado modo para poder dar como resultado as combinações desejadas. Conforme as regras de colocação, segundo as quais todas as substâncias recebem os predicados absolutos e relativos adequados a estes, deviam ser esgotados a ciência geral, a verdade e o conhecimento de todos os objetos concretos." (Lecciones sobre la historia de la filosofia, III. Trad. Wenceslao Roces [Vorlesungen über die Geschichte der Philosophie. Karl Ludwig Michelet, 1842]. México, Fondo de Cultura Económica, 1981. págs. 149-50)

Vittorio HÖSLE:" 'O conhecimento de que proposições absolutas (fundamentadas em última instância) só podem ser demonstradas indiretamente, mediante auto-superação das posições contrapostas, não é novo. Remonta a Platão e, provavelmente, já ao Sócrates histórico.'* [*(...) - Raimundo LÚLIO é um mestre em demonstração indireta, em cuja significação também refletiu teoricamente.]" (Die Krise der Gegenwart und die Verantwortung der Philosophie [A crise do presente e a responsabilidade da filosofia]. München, Beck, 1990. pág. 161)
Carl Gustav JUNG:"Não há que se maravilhar pelo fato de que já numa época bastante remota entre os latinos se manifestasse a analogia entre Cristo e o lapis, pois o simbolismo alquímico está embebido de alegorias eclesiásticas. Ainda que seja indubitável que as alegorias dos Padres da Igreja enriqueceram a linguagem alquímica, a meu juízo não é de modo algum seguro até que ponto o opus alchemicum, com suas distintas formas, possa ser entendido como transformação de ritos eclesiásticos (batismo, missa) e de representações dogmáticas. Verdade é que não se pode discutir o fato de que continuamente foram tomados empréstimos da Igreja, porém as representações de fontes originárias ou fundamentais são elementos que procedem de fontes pagãs, particularmente de fontes gnósticas. Com efeito, as raízes do gnosticismo não se acham certamente no cristianismo, pois este último foi antes influenciado pelo gnosticismo. Além disso, estamos de posse de um texto chinês que data de meados do século II e que mostra uma semelhança fundamental com a alquimia ocidental. Qualquer que tenha sido a relação entre a China e o Ocidente, o certo é que existem idéias paralelas em esferas independentes do cristianismo, em que indiscutivelmente não se pode falar de influência cristã.
Whaite (The Secret Tradition, in Alchemy: its Developments and Records, London, 1926) expôs a opinião de que o primeiro que identificou a pedra com Cristo foi o paracelsista Heinrich Khunrath (1560 - 1065), o autor do Amphitheatrum, aparecido em 1598. Em Jacob Böhme, autor de uma época um pouco mais tardia, que empregou muito a linguagem alquímica, o lapis já era uma metáfora de Cristo. A hipótese de Waite é indubitavelmente errônea. Com efeito, possuímos muitos testemunhos anteriores da relação lapis- Cristo; o mais antigo que até agora consegui estabelecer procede do Codicillus (capítulo IX) de Raimundo LÚLIO (1235 - 1315). Se bem que muitos dos tratados que se lhe atribuem possam ter sido escritos por discípulos seus espanhóis e provençais, isso não muda, desde logo, a data aproximada dos escritos capitais aos quais pertence o Codicillus. Em todo caso, não conheço nenhuma opinião fundada que atribua esse tratado a uma época posterior ao século XIV. Nele, lemos: 'E assim como Jesus Cristo, da estirpe de Davi, assumiu voluntariamente a natureza humana para libertar e redimir os homens, prisioneiros no pecado em razão da desobediência de Adão, assim também em nossa arte, o que foi mandado por um é absolvido, lavado e libertado dessa mácula por outro, seu contrário.' " (Psicología y alquimia. Trad. Alberto Luis Bixio [Psychologie und Alchemie, 1943]. Buenos Aires, Santiago Rueda-Editor, 1957. pág. 381)

Jacques LE GOFF:"LLULL (Ramón): Nascido em Palma de Maiorca, em 1232, Ramón LLULL levou vida muito mundana até, em 1262, resolver dedicar-se à conversão dos infiéis. Aprendeu o árabe e a lógica, que era ensinada nas escolas muçulmanas. Fundou, em 1276, o colégio de Miramar, para formação de missionários. Fez numerosas viagens à Ásia e à África e foi também a Paris, onde fundou uma escola. Em 1292, fez-se terceiro franciscano. Em 1311, no Concílio de Viena, pediu que se combatesse o averroísmo, reclamou o prosseguimento das cruzadas, a fusão das ordens e a criação de colégios para estudo das línguas orientais. Durante uma última viagem, foi lapidado em Bougie e morreu, em 1316, num barco genovês que o levava para Maiorca. Ramón LLULL é autor de mais de 150 obras científicas, literárias, teológicas e pedagógicas, escritas em latim mas, também e principalmente, em árabe e catalão. Essa obra imensa, que sofre decerto influências judaicas (da Cabala), é uma curiosa mescla de misticismo ocultista, erudição científica e filosofia da ação." (A civilização do Ocidente medieval, II. Trad. Manuel Ruas [La civilisation de l'Occident médiéval. Paris, B. Arthaud, 1964]. Lisboa, Editorial Estampa, 1983. pág. 316)

G. W. LEIBNIZ:" '(...) É certo que existem casos em que não há dificuldade em abandonar a letra, como quando a Escritura atribui mãos a Deus, ou lhe atribui a cólera, a penitência e outros sentimentos; do contrário, seria necessário adotar o ponto de vista dos antropomorfistas ou de certos fanáticos da Inglaterra, que acreditaram que Herodes foi efetivamente metamorfoseado numa raposa quando Jesus Cristo o denominou com esse termo. É aqui que têm o seu lugar as regras da interpretação, e se elas nada fornecem que contrarie ao sentido literal para favorecer a máxima filosófica, e se por outra parte o sentido literal nada encerra que atribua a Deus qualquer imperfeição, ou acarrete algum perigo na prática da piedade, é mais seguro e até mais razoável segui-lo. (...) [Musaeus e Vedelius] discutem também sobre a tentativa de Keckermann, que pretendia demonstrar a Trindade pela razão, como Raimundo LÚLIO* já tentara fazê-lo. Entretanto, Musaeus reconhece com bastante eqüidade que, se a demonstração do autor reformado tivesse sido boa e correta, nada haveria a objetar; neste caso teria ele tido razão em sustentar em relação a esse ponto que a luz do Espírito Santo poderia ser acesa pela filosofia.' [* Raimundo LÚLIO (1235 - 1315), célebre filósofo e mestre de lógica, expôs a demonstração mencionada na Disputatitio Fidei et Intellectus (Discussão entre a Fé e a Inteligência); foi com a finalidade de provar racionalmente as verdades da fé que ele inventou o método universal de descoberta e de demonstração ao qual deu o nome de Grande Arte.]" (Novos ensaios sobre o entendimento humano. Trad. Luiz João Baraúna [Nouveaux essais sur l'entendement humain. Paris, Garnier-Flammarion, 1966]. São Paulo, Abril Cultural, 1980. págs. 408-9 (Os pensadores))

Luiz Carlos LISBOA:"Entre as pessoas que Eckhart de Hochheim conheceu em Paris nesses anos que ali passou estudando, está um pensador no mínimo estranho. Raimundo LÚLIO, teólogo, apóstolo, missionário e místico, é um viajante intrépido que conhece de cor os pensadores e filósofos árabes, um franciscano da Ordem Terceira, inflamado de amor pelo Cristo, como São Francisco. Nunca se soube com certeza até que ponto o missionário LÚLIO terá aberto os olhos de Eckhart para alguns autores sufis que ele declamava de memória. E fora de dúvida que o dominicano alemão tinha pelo franciscano grande amizade, e talvez muito interesse pelo ouvia dele. Depois de um longo período no clima místico da Alemanha, Eckhart vivia agora a experiência, nova aos quarenta anos, de dedicar-se à memória e à consciência, ao discurso e à lógica, num clima de intensa atividade que destoava do silêncio e da contemplação a que se habituara." (Mestre Eckhart: O diálogo com Deus. S. Paulo, Queiroz, 1986. pág. 8)

Seyyed Hossein NASR:"(...) A significação metafísica dos sons e letras da língua árabe, a língua sagrada do islão, é também importante nos aspectos esotéricos e místicos dessa religião contidos no sufismo e também no shi'ismo. Esse aspecto da tradição islâmica deixou sua influência em homens como Ramon LLULL e outros autores ocidentais que estavam interessados no significado esotérico da linguagem.(...)"(...) Outros famosos textos alquímicos, como a Tábua da esmeralda e a Turba Philosophorum, pertencem também à mesma tradição hermética e alquímica islâmica baseada em anteriores fontes alexandrinas, bizantinas e siríacas. (...) Todos esses textos contêm a exposição de uma filosofia hermética que competia com as mais conhecida escola peripatética. Também no ocidente, a tradução desses e de outros textos originou a alquimia e o hermetismo latinos, que durante toda a Idade Média e o Renascimento, desde LLULL a Paracelso e Fludd, foram sérios rivais do aristotelismo.(...)"Ibn 'Arabi não foi traduzido diretamente ao latim, porém ele e os sufis em geral exerceram certa influência por meio do contato esotérico que se produziu entre o islão e o cristianismo mediante a Ordem do Templo e os Fideli d'amore. Elementos de Ibn 'Arabi são particularmente discerníveis em Dante e também em Ramon LLULL. Os místicos cristãos 'gnósticos', como o Mestre Eckhart, Angelus Silesius e o próprio Dante, mostram de fato certas semelhanças com Ibn 'Arabi e sua escola, situação que amiúde se deve mais a uma similaridade de tipos espirituais que a influências históricas.(...)"(...) Durante a Idade Média, cristãos, judeus e muçulmanos consideraram Hermes o fundador das ciências. Na verdade, os tratados atribuídos a ele foram estudados por eruditos de quase todos os ramos da ciência. Nessa época, figuras muçulmanas como Jabir ibn Hayyan, os Ikhwan al-Safa, al-Jildaki, al-Majriti, Ibn Sina (Avicena) e Sohrawardi, e também importantes pensadores europeus como Ramon LLULL, Alberto Magno, Roger Bacon e Roberto Grosseteste, foram profundamente influenciados pelo hermetismo, os ocidentais principalmente por meio do contato com fontes islâmicas.(...)" (Vida y pensamiento en el Islam. Trad. Esteve Serra [Islamic Life and Thought, London, George Allen & Unwin, 1981]. Barcelona, Herder, 1985. págs. 88; 101; 113; 144)

José Américo Motta PESSANHA:"Bruno nasceu em 1548 (...) recebeu o nome de Filipe, mudado depois para Giordano, quando vestiu o hábito de clérigo (...) Durante dez anos viveu a vida conventual até doutorar-se em teologia em 1575. Nesse período estudou avidamente quase toda filosofia grega e medieval e a cabala judaica, deixando-se impressionar particularmente pelo 'onisciente LÚLIO' (1233 - 1315), o 'magnânimo Copérnico' (1473 - 1543) e o 'divino Cusano' (1401 - 1464). Esses estudos acabaram por afastar Bruno da ortodoxia católica e motivaram constantes censuras e admoestações dos superiores. Afinal foi processado por heresia, mas se salvou fugindo para Roma." (Bruno: vida e obra in Bruno, Galileu, Campanella. Trads. Helda Barraco, Nestor Deola e Aristides Lobo. S. Paulo, Abril, 1978. pág. VIII [Os pensadores, 10])

Paul ROUSSET:"(...) a partir de 1291, o ano da tomada de São João d'Acre pelos muçulmanos, completou-se o período das Cruzadas gerais (...) Os apelos à Cruzada e os projetos de Cruzada por parte dos papas serão ainda numerosos, mas quase não terão eco. Por outra parte, o desenvolvimento das missões veio pouco a pouco e entre os melhores substituir a Cruzada; [já] vimos (...) o início dos esforços missionários das Ordens mendicantes. Graças ao catalão Raimundo LÚLIO, em especial, fixaram-se princípios, elaboraram-se métodos, em suma, esboçou-se uma doutrina missiológica que devia, no pensamento desse teólogo, substituir a Cruzada. Na realidade - e as dificuldades encontradas por esse missionário bem o demonstram -, essa doutrina nova, esse comportamento insólito, praticamente não foram compreendidos nesse começo do século XIV; a Cruzada verdadeira já não era praticada nessa época e a atividade missionária mal se havia iniciado. É notável constatar, no entanto, que as missões dos Dominicanos e dos Franciscanos na Terra Santa não desapareceram inteiramente com os Estados latinos; uma Cruzada pacífica vinha suceder à Cruzada guerreira.(...)"É comovente pensar que (...) na Itália, uma humilde mulher da Ordem terceira de São Domingos, Catarina Benincasa, queria a Cruzada (...) A mística de Sena dá (...) o argumento muitas vezes utilizado pelos pregadores de Cruzada: a expedição à Terra Santa devia permitir que se pusesse fim à guerra entre cristãos. Santa Catarina teria pretendido devolver a paz à Itália a fim de tornar possível 'a santa e doce Cruzada' (...) Catarina tinha sobre a conversão dos infiéis as opiniões tradicionais, e não as de um Raimundo LÚLIO ou as de um são Francisco de Assis; cuidava ela que a força das armas era o meio de obter a conversão dos pagãos; ignorante das contingências, estava, à sua maneira, imbuída dos espírito de Cruzada numa época em que este se dissipava." (História das cruzadas. Trad. Roberto Cortes de Lacerda [Histoire des croisades. Paris, Payot, 1978]. Rio, Zahar, 1980. págs. 217; 220)

Michele Federico SCIACCA:"Contra o averroísmo e em defesa da ortodoxia católica, escreve o franciscano catalão Raimundo LÚLIO (1235 - 1315), famoso por sua ars magna, uma espécie de sistema lógico ou arte de combinar os termos simples para descobrir os princípios do saber. Mais que como filósofo, é importante como apologista e místico. Segundo Lúlio, a própria fé suscita no crente as razões necessárias que a justificam." (História da filosofia, I: Antigüidade e Idade Média. Trad. Luís Washington Vita [La filosofia nel suo sviluppo storico. Roma, Edizioni Cremonese, 1941]. São Paulo, Mestre Jou, 1967. pág. 245)

Henri SÉROUYA:"O catalão Raimundo LÚLIO (1235 - 1315) via na Cabala o sumo do conhecimento. Seu De auditu Cabbalistica foi considerado apócrifo pela crítica moderna. Em compensação, sua Ars Magna, ligada à mística das letras para os cálculos messiânicos cristãos, deriva da Cabala. Na realidade, o primeiro pensador cristão que se entusiasmou pela Cabala foi Pico de la Mirandola (1461-93), condenado pela Inquisição, como o fora, antes dele, Mestre Eckhart, por suas visadas demasiado avançadas. (...)" (A cabala. Trad. Neila Cecilio [La kabbale. Paris, PUF, s/d]. S. Paulo, DIFEL, 1979. pág. 121)

Mário B. SPROVIERO et Aida R. HANANIA:"O ideal de um conhecimento racional e 'apriorístico' (no sentido de uma ciência geral, anterior e comum a todas as ciências: uma ciência das ciências), o ideal de uma Mathesis Universalis, proposta por vários autores ao longo da História - dentre os quais, destacamos o arabista catalão Raimundo LÚLIO (ca. 1232 - 1316) e o próprio Leibniz (...) - redundou, em termos concretos, nas empíricas e 'aposteriorísticas' enciclopédias do século XVIII, que perduram até hoje, em que ocorre apenas a justaposição de saberes e não sua desejável urdidura em um único tecido."

Rudolf STEINER:"(...) Como não vivenciou realmente o espírito enquanto espírito em si, Giordano Bruno pôde confundir a vida do espírito com os desempenhos de funções mecânicas exteriores, com as quais Raymundus LULLUS* (1235 - 1315), em sua assim chamada 'Grande Arte', queria desvelar os mistérios do espírito. Um filósofo contemporâneo, Franz Brentano, descreve essa 'Grande Arte' assim: 'Conceitos são desenhados sobre discos concêntricos giratórios e, desse modo, são produzidas as mais diversas combinações.' O resultado obtido pelo giro casual dos discos sobrepostos é, então, transformado em juízo sobre as verdades supremas. Em suas múltiplas viagens errantes pela Europa, Giordano Bruno apresenta-se em diversas Universidades como professor dessa 'Grande Arte'. (...) [* Catalão de Maiorca que, após uma vida dissoluta, abdicou de todo brilho exterior, transformando-se em 'soldado de Cristo'. Via sua missão principal na superação intelectual do arabismo. Após múltiplas disputas públicas vitoriosas, que lhe renderam perseguição e aprisionamento pelos árabes, LULLUS morre como mártir. Foi franciscano e trazia o nome 'Doctor illuminatus'.]" ( Die Mystik im Aufgange des neuzeitlichen Geisteslebens und ihr Verhältnis zur modernen Weltanschauung [A mística no nascimento da vida espiritual moderna e sua relação com a visão de mundo contemporânea]. Dornach, Rudolf Steiner Verlag, 1977 [1901]. págs. 135; 164)

Pierre VILAR:"Pode-se dizer que os momentos de maior harmonia conhecidos pela Espanha foram os do séc. XIII. Em Castela, de 1230 a 1252, reina São Fernando, não menos cristão que seu primo Luís, porém mais realista, porque limita a idéia de cruzada ao horizonte espanhol, e mais amplo de espírito, já que se diz 'rei das três religiões'. Em Aragão, reina o vigoroso catalão 'En Jaume', o Conquistador, batalhador e poeta, brutal e galante sem escrúpulo, porém rodeado de santos: Raimundo de Peñafort, Pedro Nolasco e o extraordinário Ramon LLULL. O Islão retrocede e as catedrais são erigidas. É o triunfo geral do mundo cristão." (Historia de España. Barcelona, Editorial Crítica, 6.ª ed., 1978. pág. 30-1)

Wilhelm WINDELBAND:"Raimundo LÚLIO (da Catalunha, 1235 - 1315) intenta uma exposição racional da doutrina eclesiástica, com fins apologéticos e de propaganda; é conhecido principalmente por seu raro descobrimento da ars magna, isto é, um mecanismo no qual, por uma combinação dos conceitos fundamentais, há de gerar-se um sistema de todos os conhecimentos possíveis. Um extrato dele, em J. E. Erdmann, Lógica, I, parágrafo 206. Cf. º Keicher (Beitr., VII). Suas tentativas são repetidas no século XV, por Raimundo de Sabunde, um médico espanhol que lecionou em Toulouse e despertou grande admiração por sua Theologia naturalis (sive liber creaturum).(...)""Há que sublinhar, portanto, que a escolástica, nesse seu elevado ponto de vista, está muito longe de identificar filosofia e teologia ou de converter em tarefa da primeira, como se tem dito amiúde, a total conceituação do dogma. Tal interpretação aparece nas origens da ciência medieval (Anselmo) e se encontra esporadicamente nos tempos de sua dissolução. Assim, Raimundo LÚLIO, por exemplo, esboça sua ars magna, essencialmente, com o propósito de tornar factível uma exposição sistemática de todas as verdades e, desse modo, servir-se dela para convencer a todos os 'infiéis' da verdade da religião cristã. (Essa invenção estranha e, em certo sentido, interessante, mas, também, freqüentemente artificial consiste num sistema de anéis concêntricos, dos quais cada um contém um grupo de conceitos distribuídos em setores circularmente delimitados e por cujo deslocamento se originam todas as combinações possíveis de noções, que devem assinalar os problemas e dar as respostas. Assim, há uma figura A (Dei) que contém toda a teologia, uma figura animae que abarca a psicologia, etc. Ensaios mnemotécnicos e outros, que apontam o descobrimento de uma linguagem universal ou de uma simbólica filosófica, encontram-se com freqüência nessa arte combinatória; da mesma forma, aparece em relação com essas tentativas a origem de um cálculo algoritmo.) O mesmo quis provar também Raimundo de Sabunde, com ajuda da arte luliana, que, ainda que Deus se revela de dois modos (na Bíblia, Liber scriptus; e na natureza, Liber vivus), o conteúdo de ambas revelações (das quais uma está na base da teologia e a outra, na base da filosofia) tem de ser necessariamente o mesmo. Porém, na época clássica da escolástica, teve-se sempre clara consciência da distinção entre teologia natural e teologia revelada e tanto mais se insistiu nisso, quanto mais a Igreja teve ocasião de tomar precauções contra a confusão de sua doutrina com a teologia 'natural'." (Historia general de la filosofia. Trad. Francisco Larroyo [Lehrbuch der Geschichte der Philosophie. J. C. B. Mohr (Paul Siebeck)]. México, Editorial "El Ateneo", 1960. págs. 278, 281)

Frances A. YATES:"O lulismo não é nenhum assunto secundário e sem importância na civilização ocidental. Sua influência ao longo de cinco séculos foi incalculavelmente grande. LÚLIO esteve na Itália, os manuscritos de sua obra foram divulgados muito rapidamente ali e Dante pode tê-los conhecido. Se a geometria luliana influiu na teoria arquitetônica italiana é, ao que me parece, uma pergunta que jamais se fez. O Renascimento apoderou-se do lulismo com grande entusiasmo; de fato, talvez não seja exagerado dizer que o lulismo tenha sido uma das forças principais no Renascimento. Pico della Mirandola reconheceu que seu sistema devia muito à Ars combinatoria de Raimundus. Nicolau de Cusa colecionou e copiou pessoalmente manuscritos lulianos. Giordano Bruno e Agrippa de Nettesheim eram ambos lulistas. Também o era John Dee, uma das figuras mais influentes no pensamento da Inglaterra elisabetana. As teorias médicas lulistas foram conhecidas por Paracelso. Em Paris, um dos primeiros lugares do lulismo no século XIV, foi revivido intensamente no século XVI quando, por intermédio da influência de Lefèvre d 'Etaples, se estabeleceu uma cátedra de lulismo na Sorbonne. O lulismo continuou sendo entusiasticamente cultivado em Paris ao longo do século XVII, e o sistema foi seguramente conhecido por Descartes, que reconheceu que estava presente em seu espírito quando concebeu seu novo método para constituir uma ciência universal. Houve uma revivescência em grande escala do lulismo na Alemanha do século XVIII, cujo produto final foi o sistema de Leibniz. E tudo isso enquanto a tradição alquímica pseudoluliana prosseguia seu misterioso curso."Durante os séculos da influência viva do lulismo, os lulistas sabiam muito mais do nós sobre a maneira de operar com a Arte luliana, pois utilizavam os manuscritos. É tempo sem dúvida de que também nós os utilizemos e tratemos de conhecer melhor a verdadeira natureza desse grande monumento que dominou durante tanto tempo o cenário europeu: a Arte de Ramon LLULL." (Ensayos reunidos, I: Lulio y Bruno. Trad. Tomás Segovia [Lull & Bruno. Collected Essays. Volume I. London, Routledge & Kegan Paul, 1982]. México, Fondo de Cultura Económica, 1990. págs. 123-4)

James Francis YOCKEY:"Em seu desenvolvimento intelectual e espiritual, Nicolau de Cusa sofreu grande influência de quatro vultos: Platão e Ramon LLULL foram seus guias intelectuais; seus guias espirituais foram mestre Eckhart e Hildegard de Bingen. Entretanto, Nicolau não experimentou uma dicotomia entre o racional e o místico. Ao contrário, foi por meio da mistura orgânica de matemática, misticismo e filosofia que sua obra adquiriu força e originalidade.(...)"Quanto à influência de Ramon LLULL, Nicolau possuía mais manuscritos de LLULL do que de qualquer outro autor. De fato, adquiriu mais de um quarto dos títulos de LLULL. Cusa apropriou-se dos discernimentos matemáticos e científicos de LLULL, dando-lhes um toque pessoal por meio da adaptação teológica. Assim, muitas vezes é difícil determinar onde termina o pensamento de LLULL e se inicia o de Nicolau." (Meditações com Nicholas de Cusa. Trad. do inglês por Barbara Theoto Lambert [Bear & Co.]. S. Paulo, Gente, 1993. págs. 17-8)
Muçulmanos e Cristãos no diálogo luliano
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A História de Ramon Llull (1232-1316) em quadrinhos
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Textos traduzidos de Ramon Llull (1232-1316)
 
posted by Ana Maiz at 11:49, | 2 comments